Flores no Vale
"Bem, céus azuis e colinas parecem tão distantes E escrevi no meu diário que já vi dias melhores Do que esses últimos
Não posso suportar o peso. A chuva não para de cair na minha janela E não saio do meu quarto há setenta e seis dias. Eu queria que alguma coisa mudasse Porque estou perdendo a fé.
Então, eu fiz uma oração desesperada
Deus, por que o Senhor está me mantendo aqui? Foi então que Ele me disse: Filha, estou plantando sementes. Porque sou um bom Deus e tenho um bom plano. Portanto, confie que estou segurando um regador. E um dia você verá Que flores crescem no vale.
Portanto, seja qual for o motivo pelo qual eu mal estou conseguindo sobreviver Eu confiarei que é só uma temporada, sabendo que o Senhor está ao meu lado A cada passo do caminho E eu ficarei bem.
Porque eu fiz uma oração desesperada: Deus, por que o Senhor está me mantendo aqui? Foi então que Ele me disse: Filha, estou plantando sementes. Porque sou um bom Deus e tenho um bom plano. Portanto, confie que estou segurando um regador. E um dia você verá Que flores crescem no vale.
Quando eu estiver na montanha e olhando para baixo Eu verei um vale de flores que precisaram de tempo para crescer E irei agradecer ao Senhor pela chuva Pelo sofrimento e pelos dias de dor.
E eu farei uma oração de gratidão: Obrigada, Jesus, por me manter ali. O Senhor sabia exatamente o que eu precisava E plantou sementes. Porque o Senhor é um bom Deus com um plano muito bom E sustentou meu mundo e segurou um regador. Para que eu pudesse ter paz Porque flores crescem no vale."
Flowers - Samantha Ebert
Quando me imaginava desfrutando da resposta de minhas orações, com meu filho em meus braços, não passou pela mente que seriam momentos de trevas, nebulosos. A depressão chegou em minha vida junto com todos os problemas de saúde que tive, no mesmo tempo que fiquei infértil. Graças ao Senhor eu estava bem e em 2022 estava experimentando novamente o que era ter uma saúde emocional. Graças a medicação, terapia e tudo que o Senhor preparou para que eu tivesse a cura da depressão naquele momento. Mas como quaisquer outros males que podemos enfrentar em vida, a depressão pode voltar. O processo da fertilização foi bem puxado emocionalmente falando. Eu queria manter minha mente no lugar certo, com as expectativas corretas, mesmo colocando em meu coração que eu poderia ter o não do Senhor. E foi ao me agarrar a um possível "não" que eu trouxe tanta carga emocional desnecessária para mim. Na minha mente era mais fácil já crer que Deus não permitiria que a fertilização desse certo. E com o passar dos passos da fertilização, tudo parecia mais um sonho do que realidade. Ao receber o teste positivo na véspera de Natal de 2022, a ficha ainda não tinha caído que eu tinha o sim. Quando eu ouvi o seu coraçãozinho bater pela primeira vez, ainda não acreditava que havia uma vida em mim. E em Janeiro com apenas seis semanas de gravidez, eu tive um grande sangramento. Nos minutos que Ruben dirijia para o hospital eu só podia pensar: "obrigada Senhor pelo tempo que o Senhor permitiu essa criança ficar aqui conosco." Ao me agarrar ao não de Deus, eu já esperava a dor. E naquele momento de dor, era como eu dissesse para minha alma: "É você tinha razão. Não vai dar certo. Eu tenho só a dor para carregar." E o Senhor milagrosamente preservou a vida do pequeno Samuel, ao qual oramos tanto para que ficasse em meu ventre. Depois do perigo, meu coração ainda temia algo acontecer novamente. Meu coração não só temia, mas era como se ele esperasse que o mal poderia bater a porta a qualquer momento. Com 23 semanas, que seriam uns 5 para 6 meses, eu tive um pequeno sangramento. Com tudo que já tinha passado, fui trabalhar mas pensando o que poderia ser, se Samuel estava bem mesmo. Ao ouvir da médica que fez minha ultrassom: "Não tem nada que você possa fazer... Ele vai nascer bem pequeno, sua bolsa já está saindo." Minha mente novamente voltava para a certeza da dor que eu já sabia que sofreria. Era como se já tivesse decretado que por tudo que eu passei não restava mais bem nenhum, só mal. E o pior que eu olhava para Deus eu só esperava dor. Eu não o culpava, ou ficava zangada. Sei que tudo que Deus faz é bom, mesmo a mais amarga dor. Mas no fundo no fundo, eu tinha associado a maternidade a dor. Os anos de infertilidade me fizeram crescer muito, mas também me ensinaram a aceitar a dor. Permitir a ferida e deixar Deus curar. E porquê Deus não aproveitaria esse momento excepcional em minha vida para mais uma vez me ensinar através da dor? Ele poderia sim ensinar pela alegria, mas acho que meu coração não enraizaria Nele como na dor. E mais uma vez Deus derramou sua graça na vida do Samuel. Me levou a um procedimento que permitiu ele ficar mais tempo no "forninho". A expectativa era que o colo do meu útero segurasse até ele completar 34 semanas ou 8 meses. Sabíamos que se ele nascesse com menos de 28 semanas, ele teria menos chances de sobreviver. E mais uma vez a certeza que a dor me esperava dominou meu coração. Como eu tinha que ficar de repouso absoluto, aproveitei para continuar os brinquedos de crochê e bolsinhas bordadas a mão. Até que um dia antes de bordar seu nome eu hesitei ao pensar: "e se Samuel não sobreviver? Porquê bordar seu nome aqui se eu irei perde-lo?" Cada vez que eu me agarrava a um possível "não" de Deus, mais ainda a chama da fé ia se apagando em meu coração. As dores me fizeram ficar cega para tudo que Deus já havia feito. Deus disse sim para Samuel quando lhe deu o fôlego de vida ao permitir que ele fosse gerado. Deus disse sim para Samuel quando até mesmo o médico achava que no meio de tanto sangue não havia mais nenhum bebê em meu ventre. Deus disse sim para Samuel quando ouvi que sua bolsa estava saindo e que ele poderia nascer tão pequeno sem chance de sobreviver. Deus disse sim para Samuel ao escrever todo os seus dias em um livro. Saber tudo que iria acontecer, até mesmo toda dor que eu ainda iria passar. Quando Samuel estava na UTI, crescendo e indo muito bem, a dor emocional se demonstrou fisicamente. A primeira crise de choro foi quando o pequeno Samuel descansava em meu colo depois de mamar, ainda na UTI. A dor foi tão grande que minha vontade era sair correndo daquele lugar barulhento que trazia mais dor diariamente. Minha mente entrou em parafuso ao pensar que a vontade era de machucar o Samuel, mas como eu poderia fazer isso com meu tão sonhado filho? Durante os meses seguinte era como se a dor tivesse se tornando uma outra pessoa em minha mente. Uma pessoa insistente que tinha desejos horríveis contra um pequeno e inofensivo bebê. Por diversos momento a dor não me permitia reconhecer Samuel como meu. A dor emocional se tornava física quando eu precisava amamentar meu filho. E em meu coração eu dizia ao Senhor: "porque a dor ainda está aqui se meu filho está bem? Quando essa importuna irá embora? O que eu preciso fazer para que ela me deixe em paz?" Eu achava que a solução seria fingir que tudo estava bem dentro de mim. Fingir que ela não estava ali, me afligindo diariamente dizendo coisas horríveis no meu ouvido. Durou muito tempo até eu perceber que ignora-la não faria ela ir embora. Eu ainda insistia em meu coração: "Porque a dor ainda está aqui se tenho tudo que preciso para ser feliz?" Quando arrumei coragem e deixei a vergonha de lado procurei ajuda e confessei o que a dor fazia em mim. Disse para os médicos e minha terapeuta os pensamentos horríveis que eu tinha. Pedi ao Senhor que me mandasse alguém que tinha passado o mesmo do que eu para que eu pudesse entender o que estava acontecendo. Em um dia minha oração foi respondida e meu consolo veio: "vai passar". Minha mente lutava com a ideia de só esperar. Eu queria agir, afinal se era algo emocional eu posso controlar minha mente não é mesmo. Infelizmente ninguém controla como se sente. Mas a partir daí busquei me firmar no que eu poderia controlar: a verdade que eu confio. A dor trazia mentiras diárias e eu precisava mina-las com a verdade. Me agarrei na Verdade da Palavra de Deus. Ela não muda, não murcha e é luz nas minhas densas trevas. Quando a dor queria me cegar para reconhecer meu filho, eu dizia em voz alta olhando nos seus tenros olhos: "Você é sim meu filho! Eu orei anos para Deus me enviar você meu filho! Você é benção na minha vida e amo muito você!"
A dor continuava ali mas não me controlava mais. Não tenho dúvidas de que tudo coopera para o bem, pois é essa verdade é eterna e firme em meu coração. Por isso sei que a dor foi permitida pelo Senhor, mas para que minhas raízes encontrassem a fonte da Vida Eterna. No meio da dor da depressão pós-parto, do deserto impiedoso, meu coração encontrou o oásis da fonte divina. Poderia ainda ter dor, mas sua luz era mais forte. Eu dizia para minha dor: você não é eterna como a Palavra de Deus. Eu murcharei como a erva, mas as promessas divinas estarão firmes no céu. E agora ao estar experimentando o alvorecer, posso ver que essa enorme madrugada escura serviu para plantar várias sementes em meu coração. Meu desejo nunca foi só ter um filho, mas sim educar uma criança nos caminhos do Senhor. E como faria isso se não primeiro experimentar Quem Deus é? O jardim do meu coração está sendo plantado para que ali meu filho veja o que Deus pode fazer em uma alma. Eu continuei aprender ao lado do meu pequeno. Mas é papel nosso, meu e do pai dele, de guia-lo nos caminhos do Senhor. Um dia levarei ele ao jardim para colhermos flores e dizer: está foi plantada com muita dor, mas olha que linda flor ela deu, para honra e glória do Senhor.
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